A primeira luta foi bem boa, muito sangue e coragem. Assistir as lutas de boxe ensina alguma coisa sobre o ato de escrever; a mesma coisa acontece com as corridas de cavalo. A lição não é muito clara, mas eu sinto que me ajuda. Isso é que é importante: a lição nunca é clara. Lição sem palavras, como uma casa se incendiando, um terremoto, uma inundação ou uma mulher saindo do carro e mostrando as pernas. Eu não sei do que os outros escritores precisam, nem me interessa. Não os lei mesmo. Sou prisioneiro dos meus hábitos, dos meus preconceitos. Não é mau ser burro, se a ignorância for sua de fato. Eu sabia que um dia ainda iria escrever sobre Katherine e que ia ser difícil. É fácil escrever sobre putas, mas escrever sobre uma boa mulher é muito mais difícil.
A segunda luta foi boa também. A galera berrava e urrava e se empapuçava de cerveja. Eles tinham fugido provisoriamente das fábricas, armazéns, matadouros, postos de gasolina, e estariam de volta ao cativeiro no dia seguinte. Mas, agora, estavam fora, embriagados com a liberdade. Não estavam pensando na pobreza nem na escravidão. Nem na humilhação do seguro-desemprego e das cotas alimentares. Nós, os do lado de cá, estaremos bem até o dia que os pobres descobrirem como fazer bombas atômicas no porão de casa.
Mulheres, p.109.
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